sábado, 15 de julho de 2017

Os médicos de Portugal - Sonhos de Menino

"A minha filha estuda tanto! Quer entrar em medicina, sabe? Sempre foi o sonho dela desde pequenina."- seguro o vómito para não parecer mal. Infelizmente tive que ouvir uma vez mais esta frase. Decidi então que estava na altura de escrever este texto sob o risco de estes pais irem comentar as suas angústias de virgens ofendidas. Mas ninguém pode negar que o que aqui escrevo é a mais pura das verdades, e a generalidade dos portugueses, como burros que não são, assim o vão confirmar.

Nesta altura dos exames nacionais encontramos milhares de jovens esgotados de tanta pressão. Afinal não é qualquer um que consegue entrar em medicina. Têm de ser perfeitos. Quando se lhes pergunta o porquê de quererem frequentar o curso de medicina, estes jovens têm normalmente a resposta na ponta da língua: "É o meu sonho desde menino!", qual música do Tony Carreira. Os pais rejubilam de alegria e espalham pela vizinhança, com os peitos inchados de orgulho, os sonhos das suas crias. Afinal criaram-nos bem, estão a lutar para um dia conseguirem ajudar os outros! Não é isso que todos eles dizem? Que querem ajudar a salvar vidas, blá, blá blá... Já não há paciência!



E como estes progenitores se mostram orgulhosos por serem o tipo de pais que apoia os sonhos dos filhos a qualquer custo. O que eu gostava mesmo era vê-los a apoiar o filho a ser músico ou arqueólogo! Ou outra profissão qualquer em que os rendimentos futuros não estivessem garantidos como em medicina. Vê-los com o mesmo peito inchado a contar ao vizinho que o filho quer ser pintor ou cozinheiro. Apoiar o filho a sonhar. 

Eu queria mesmo era ver estes pais a mostrar este mesmo orgulho por o filho querer ser médico, se isso não significasse o estatuto social que esta profissão representa em Portugal. Sim, porque em muitos outros países não há cá o "Sr. Dr.". Noutros países a média para entrar em medicina é muito mais baixa, e também as regalias não são tantas... Mas em Portugal as pessoas quase que se ajoelham para que o Sr. Dr. lhes conceda um pouco do seu tempo, mesmo que por vezes revele uma falta de educação de todo o tamanho para com o utente. Já se for cliente...

Atenção, que eu não critico de todo quem quer ser médico. Quase sempre corresponde a uma vida folgada. Eu  não sou hipócrita, compreendo perfeitamente que os pais queiram ver os seus filhos a entrar para o curso de medicina. Mas que sejam sinceros, porra! Querem é salvar euros para o bolso, não vidas! 

O problema, no meio de toda esta perfeição, é que todos nós constatamos por experiência própria esta merda de altruísmo. Quando entramos nas urgências do nosso país que bom que é sermos calorosamente recebidos por um Sr. Dr. interessado em nos ajudar e com paciência para realmente descobrir a nossa maleita! Realmente, a cara dele de contentamento mostra bem que estar ali para me atender sempre foi o sonho da vida dele. Ah, mas esperem lá! O Sr. Dr. também não se sente motivado para trabalhar... Se ele estivesse no privado estaria a ganhar mais de o dobro. No público mal dá para as despesas, qual Cavaco Silva. E de repente, o sonho dos nossos santos médicos passa para salvar vidas apenas no privado.

E depois de tudo isto dito, quero aqui realçar que de facto existem médicos a sério. Basta relembrar quem anda por África ou por terras de conflito. E até mesmo no nosso Portugal se encontra um aqui e outra acolá. Mas a excepção, só faz a regra. 


domingo, 9 de julho de 2017

Intolerantes ao glúten não são filhos de Deus


Hoje deparei-me com uma notícia que infelizmente não me choca. Já poucas coisas me surpreendem num mundo onde largar e torturar touros é cultura e diversão. Onde se espetam foices no peito de cadelas. Onde padres são perdoados pela igreja por abusarem de crianças, porque Deus é misericordioso. E agora sabemos que por iluminação divina, o vaticano concluiu que hóstias sem glúten não são consideradas válidas pela igreja.

Verdade seja dita, durante a última ceia Jesus não distribuiu pão sem glúten pelos seus discípulos, pois não? Era pão a sério, não como estas modernices de hoje em dia... E como se sabe a igreja gosta de cumprir com as tradições e ensinamentos da bíblia. E como grandes cumpridores que são, concluíram que as pessoas que são intolerantes ao glúten não são filhas de Deus. Sim, porque se essas pessoas não têm o direito de comungar, não têm lugar na igreja (dos humanos). Simples.


"Mas a hóstia é tão pequena, e está consagrada, não faz mal!", comenta o ignorante. Aliás, estamos rodeados de pessoas como estas, que não sabem do que falam. Não sabem das dores por que já passei, não sabem do esforço que é ter uma alimentação isenta de glúten. Raramente me queixo, mas que ninguém me venha dizer "é só um bocadinho, não faz mal"! Dias, meses, anos de sacrifício para manter o meu sistema digestivo o mais calmo possível! Sem me sentar numa pastelaria a comer um bolo de arroz, ou uma simples torrada. Sem comer uma fatia de bolo que o colega levou para o trabalho. A olhar tantas e tantas vezes para os outros a comer massa ou pizza num restaurante e eu com uma salada à minha espera...

Tudo isto para estes senhores iluminados me dizerem que pecado, pecado é comungar uma hóstia sem glúten! Pecado é alguém se levantar da cama para ir à missa ao domingo e pedir ao senhor padre uma hóstia sem glúten, de modo a não sentir dores. Que atrevimento! Inferno garantido.

Jesus se estás a ler isto perdoa-lhes, porque eles não sabem o que dizem...